Tuesday, June 30, 2009

The Beatles

Todo mundo sabe que eu gosto bastante de música em geral, e aí no Brasil eu tinha uma coleção respeitável de mp3.. Como eu não queria me meter em encrenca com o Tio Sam e o seu DMCA, eu não trouxe as músicas para cá, e nem baixei nada por aqui. Ao invés disso, eu tenho restringido um pouco o que eu ouço, e tenho 
me virado com rádios online, e de quando em vez comprando um ou outro álbum via iTunes.

Mas uma banda que eu definitivamente não estou disposto a não ouvir por mais de um dia são os Beatles. Eu tive que diminuir a variedade das coisas que eu ouço aqui, porque eu não tenho acesso a tanta música. Mas, como eu não parei de ouvir os Beatles, proporcionalmente eu tou ouvindo eles muito mais seguido.

Enfim, estava eu ouvindo uma música deles em particular, e encaixou na minha cabeça com essa tirinha, do xkcd,

Alt text: "People aren't going to change, for better or for worse. Technology's going to be so cool. All in all, the future will be okay! Except climate; we fucked that one up"

Fora a obviedade de que xkcd é genial, essa tirinha me lembrou que em geral, a quantidade de reclamação que existe por aí é bem maior do que a quantidade de problemas. É claro que o mundo não é um mar de rosas, e que existem coisas seriamente ruins acontecendo. Mas, eu tenho a forte impressão de que se as pessoas passassem metade do tempo que elas passam reclamando e resmungando dos seus problemas actually solving them, rapidinho os problemas iriam se resolver! O problema é que todo mundo gosta de reclamar, porque é mais fácil justificar os problemas do que lidar com eles. Obviamente, todo mundo me inclui.

Enfim, voltando aos Beatles. Eis a música que me lembrou a tirinha (ou a tirinha que me lembrou a música):

There's nothing you can do that can't be done
Nothing you can sing that can't be sung
Nothing you can say but you can learn how to play the game
It's easy

Nothing you can make that can't be made
No one you can save that can't be saved
Nothing you can do but you can learn how to be you in time
It's easy

All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need

Nothing you can know that isn't known
Nothing you can see that isn't shown
Nowhere you can be that isn't where you're meant to be
It's easy

All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need

All you need is love (all together, now!)
All you need is love. (everybody!)
All you need is love, love
Love is all you need (love is all you need)

Me chamem de ingênuo, se quiserem, mas normalmente os cínicos que fazem esse comentário são exatamente as pessoas que, na minha opinião, passam muito tempo resmungando das desgraças da vida, e não vêem as coisas tris acontecendo por tudo que é lugar.

Fora isso, os Beatles são demais né? Cada vez que eu ouço mais coisa deles, mais eu me dou conta do quão fora da casinha eles são. E se vocês não acreditam em mim, tem um testemunho de um certo sujeito:

" [...] I didn't know it was art then, of course. I only knew that The Beatles were the most exciting thing in the universe. It wasn't always an easy view to live with. First you had to fight the Stones fans, which was tricky because they fought dirty and had their knuckles nearer the ground. Then you had to fight the grownups, parents and teachers who said that you were wasting your time and pocket money on rubbish that you would have forgotten next week.
I found it hard to understand why they were telling me this. I sang in the school choir and knew how to listen for harmony and counterpoint, and it was clear to me that The Beatles were something extraordinarily clever. It bewildered me that no one else could hear it: impossible harmonies and part playing you had never heard in pop songs before. The Beatles were obviously just putting all this stuff in for some secret fun of their own,  and it seemed exciting to me that people could have fun in that way. [...]
-- Douglas Adams,  excerpt from The Voice of All our Yesterdays"

Enfim. Eu acho que se preocupar um pouco menos e viver um pouco mais é sempre uma boa alternativa. Pra terminar, uma coisa aleatória que eu achei na Wikipedia, uma entrevista com o Paul McCartney, falando de Norwegian Wood e Day Tripper:

Reporter: I'd like to direct this question to messrs. Lennon and McCartney. In a recent article, Time magazine put down pop music. And they referred to "Day Tripper" as being about a prostitute...
Paul: Oh yeah.
Reporter: ...and "Norwegian Wood" as being about a lesbian.
Paul: Oh yeah.
Reporter: I just wanted to know what your intent was when you wrote it, and what your feeling is about the Time magazine criticism of the music that is being written today.
Paul: We were just trying to write songs about prostitutes and lesbians, that's all.

Hear, hear! Off to fling myself off of an airplane.

(eu já falei de como eu odeio o blogspot? Vocês não fazem idéia do trabalho que dá pra editar essas fontes de tamanhos diferentes, com a interface lixenta desse negócio... )

Thursday, June 11, 2009

Velejar no deserto não dá!

Então. Dá pra acreditar que fincado absolutamente no meio do deserto por um ano, eu ia achar um jeito de dar uma velejada? Acreditem ou não, tem um Hobie Cat-16 estacionado na minha garagem. A única coisa que tá faltando é achar uma agüinha por aí e mandar bala. Mas mais sobre isso adiante.

Conversa vai, conversa vem com o Dave, e eventualmente eu comentei com ele que eu velejava mais ou menos freqüentemente no Brasil. Então, eis que um dia desses ele vem me perguntar qual classe de barco que eu velejava, e eu respondo "it's like a mini two person olympic dinghy" (se alguém nesse mundo assiste à Vela nas olimpíadas, uma das classes que se compete é o 470, que é um barco de duas pessoas, e eu velejava num 420, que é um mini-470). Aparentemente o Dave estava interessado porque ele ficou sabendo que um amigo nosso, o Jacob, tinha recém comprado um Hobie-16 de um cara que estava se mudando de Salt Lake City. O que diabos alguém vai querer fazer com um barco no meio dos Salt Flats (eu já falei que eu estou no meio do deserto?) ?

It's quite perfectly safe, really. Except when it's not so much...


Reza a lenda (e o Google Maps) que, de fato, existem alguns lagos por aqui (ah sim, a cidade também se chama Salt Lake City, mas o Salt Lake é salgado (obvious, much?) e fedorento). Além do Salt Lake, existem alguns reservatórios de água doce que potencialmente explicam porque um sujeito vai querer comprar um barco por aqui.

Agora, tem duas coisas. 1) Um Hobie-16 não tem nada a ver com um 420 e, 2) o Jacob nunca pisou o pé num barco na vida! Isso explica o Dave ter vindo falar comigo. Aparentemente, o Jacob comprou esse barco no auge do inverno, e só agora o clima tem estado bom o suficiente (nevermind o fato de que choveu aqui nos últimos dez dias, mais ou menos) para o Jacob ir até a ex-casa do cara que vendeu o barco pra ele pra organizar tudo e ver se dava uma velejada. Tendo ouvido do Dave que eu me metia nessa história de barco pra lá e barco pra cá, ele nos convidou para passarmos o fim de semana às voltas com o dito cujo.

Sábado de manhã, então, o Jacob passou aqui em casa, e lá fomos nós até a casa do Aaron (que é o ex-dono do barco). Agora, o Aaron mora (morava, actually) em Sandy, que meio que uma Gravataí, assim. Dá uns minutos de estrada pra chegar lá. E o Jacob dirige um jipe sem portas e sem teto, daqueles que só tem a armação do carro entre o magrão e, bem, os elementos. O jipe é muito tri, mas fazer 60m/h na estrada, de bermuda e camiseta, não foi a melhor idéia que eu já tive, em retrospecto.

Chegando na casa do Aaron, a gente viu que o barco estava, em princípio, em ótimas condições. Só um detalhe: as buchas que fecham os cascos, basicamente para evitar que entre água e que eles afundem que nem pedras, estavam faltando. Pelo menos a gente se deu conta disso antes de botar o bicho na água, então passamos por uma West Marine (pelo jeito eu sou o único que me impressiono com ter vela no meio do nada, porque até West Marine no deserto tem), e compramos um par de buchas novas. Quando chegamos de novo na casa do Aaron, para instalar as buchas, já eram umas 10h30 da manhã.

Bueno, buchas instaladas, o Jacob engatou o barco no reboque, e nos metemos por mais uma hora e tanto de estrada para, milagrosamente, achar o tal do lago onde a gente ia velejar. Mais um tempinho de jipe sem porta, e chegamos no State Park do lado do Deer Creek Reservoir. Na hora de montar o barco (pela primeira vez, mind you), notamos que uma outra peça, mais ou menos importante (sem ela, coisas como o mastro cair e quebrar em dois podem acontecer) tinha decidido que estava muito frio para velejar, e portanto tinha resolvido pular fora do barco no meio do trajeto, provavelmente para matutar sobre a vida na beira da estrada e pegar uma carona para um lugar com menos deserto. Guh-reat. Pra melhorar ainda mais a situação, uma guardinha florestal apareceu perguntando pro Jacob se ele tinha registrado o barco no DMV aqui de Utah (DMV stands for Department of Motor Vehicles, ou seja, aqui barcos têm que ser registrados no DETRAN!). Segundo meu irmão, faz mais sentido do que ser na Guarda Costeira. Porque? Porque Utah não tem costa! Mas bom, claro que o Jacob não tinha registrado o barco. (a essas alturas do campeonato vocês já devem ter visto que a gente não velejou no tal do fim de semana)...

Resignados, com fome e com frio, decidimos mudar o foco do dia para, ao invés de tentar velejar o barco sem saber direito o que que estava funcionando e o que não estava, estacionar o barco na nossa garagem (yay!) e passar o dia churrasqueando, cervejando, trovando, e, se sobrasse tempo, arrumando o Hobie. Passamos numas duas ou três lojas de artigos barquíferos e compramos todas as peças que estavam faltando, ou que estavam erradas, ou que nos desse na telha, e voltamos aqui para casa. Notem que isso já era quase umas 4h da tarde, porque, como eu disse, a gente está no meio do deserto, então o trajeto até o tal do lago milagroso demora umas boas duas horas pra ir e duas pra voltar. A peça que mudou de idéia e decidiu pegar uma carona para um lugar mais tropical já devia estar a meio caminho de Tijuana a essas alturas.

Depois que chegamos aqui, basicamente nós desmontamos todo o barco, e montamos de novo. Velejador é um tipo meio obssessivo compulsivo, então pra mim tudo tinha que estar em seu devido lugarzinho (e foi bom, porque eu já imparted esse vício no Jacob). Agora o barco está arrumado, consertado, limpo e pronto para velejar depois que a burocracia do DMV estiver terminada. Mas a parte mais tri, como eu já falei; o barco tá na minha garagem! Eu olho pra ele todo dia antes de ir pro trabalho, e depois de voltar.

Então, depois desse monte de blá blá blá: eu não fui velejar esse fim de semana, mas considerando todas as circumstâncias, estou mais perto de velejar aqui nos EUA do que nunca!

(Ah sim, a gente provavelmente vai botar o barco na água esse fim de semana. Mas não vai ter tanta graça quanto essa história toda de fazer o bicho ficar pronto. E ah sim também! Eu não faço a mínima idéia de como um Hobie funciona, porque, como o Jacob, eu nunca botei pé em um. What could possibly go wrong? )