Wednesday, September 07, 2005

Ordem e Progresso

Bear with me today, porque eu tenho um monte de coisas pra dizer...

A representação mais consagrada e difundida da Independência surge do quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo. Apresentado pela primeira vez em 1888, ele se transformou na versão oficial do gesto que funda o país. D. Pedro, de espada em punho, proclama a independência, dando o grito que reverbera em todo o império. De acordo com este quadro, o brasileiro passa ao largo da ação, pois negligentemente contorna a colina do Ipiranga com seu carro de boi, sem perceber a magnitude do evento.
(...)
Para essa imagem convergem ainda as anedotas sobre a família real brasileira: o comilião D. João, tão desinteressado dos assuntos do Estado; a fogosa Carlota Joaquina; o irresponsável e namorador Pedro I (...). Estas caracterizações ridicularizam o governante e, paralelamente, transmitem uma idéia de povo tolo, insaturando uma espécie de coerência medíocre entre o povo e o mandatário político.

Iara Lis C. Souza. A independência do Brasil. op. cit. p. 7-8

Hoje, há 183 anos, nascia um país. Mesmo? Prostrados em suas rígidas formações, militares ao redor do Brasil comemoram um gesto heróico e corajoso que nunca existiu. Quem é o brasileiro? Quem foi esta figura que declarou às margens plácidas do Ipiranga, com um brado retumbante, "independência ou morte"?

Infelizmente, a história que nos contam não é a que aconteceu. Lá em 1822, não houve brado nenhum, às margens de rio nenhum. O que aconteceu foi um acordo entre interesses elitistas. O Brasil foi um arranjo de conveniências desde seu surgimento.

A História nos mostra que, para um processo de independência funcionar, este deve partir da iniciativa do povo (me perdoem aqueles que acharem que eu estou soando Americanizado demais). De nada adianta um país se tornar indepentente de sua potência colonial se a estrutura social e econômica da nação não se altera. E foi justamente isto que aconteceu no Brasil. A independência foi arranjada para que as estruturas não mudassem. Os latifundiários, que contavam pesadamente com trabalho escravo e privilégios da corte, apoiaram D. Pedro I, para que o país fosse "reconhecido", e estes privilégios pudessem ser mantidos. Isto porque Portugal pretendia diminui-los, ao retirar parte do poder de D. Pedro. Não houve luta armada pelo Brasil! Os poucos focos de resistência foram rapidamente combatidos por mercenários (?!) contratados por D. Pedro.

Sabem quem foi o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil? Os EUA. Porque? Porque eles não tinham nada a ganhar com uma colônia Portuguesa na sua vizinhança. O que eles queriam era um país "independente" para onde estender seus mercados em potencial. Mais uma vez, o processo de nascimento do Brasil foi dirigido por qualquer coisa menos interesse popular. Sabem também como fizemos para que Portugal reconhecesse nossa soberania? Nós a _compramos!_ Por 2 milhões de libras esterlinas. Libras estas que o Brasil conseguiu aonde? Emprestadas! A juros! Da Inglaterra!! Conveniente, não?

Para completar a palhaçada histórica que é este país, vamos falar um pouco sobre o "Poder Moderador". Em 1823, o jovem país que surgia começou os esboços de uma Constituição. Esta definia, como em todo o mundo sensato, a divisão do poder em três pólos: O judiciário, o legislativo e o executivo. Entretanto, esta organização iria diminuir sensivelmente o poder do Imperador. D. Pedro, obviamente, só aceitou esta constituição com uma leve correção: a instauração de um quarto poder, chamado de "Moderador", que dava a ele autonomia de vetar qualquer decisão dos outros três poderes, além de nomear ministros e deputados. Em suma, surgiu uma espécie de ditadura pacífica, mais uma vez escondida por debaixo dos panos.

Talvez se Tiradentes conseguisse a independência como ele queria, em nome dos interesses do povo (isto é, novamente, o que a história nos conta; do jeito que andam as coisas, não tenho como saber quais interesses obscuros este dentista escondia. Mas nele eu confio), o país fosse bem diferente. Talvez funcionasse. Mas do jeito que começou, não é de admirar que toda e qualquer decisão política durante toda a história nacional tenha sido nada mais do que um acordo de conveniências entre as classes que dominam, ignorando totalmente o povo, que segue idle, assistindo jogos de futebol e novelas enquanto os governantes nos roubam tudo.

Este é o meu presente. Feliz 183 anos, Brasil.
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve, Salve!

--- Seção "Do dia" ---

Música do dia: Legião Urbana - Perfeição

Piada do dia:
Deus estava criando o mundo, e abriu seu baú de desastres naturais. Começou a escolher onde ia colocar cada coisa, e foi ao trabalho: nos Estados Unidos, colocou furações e tornados. No Japão, terremotos e vulcões. Na África, criou os lugares mais secos e quentes que se possa imaginar. Russos, pensou ele, deverão aguentar um frio rigoroso durante quase todo o ano. Quando ele terminou, um anjo veio perguntar: "Mas e ali, naquele cantinho na América do Sul? Ficou tudo tão bonito, com matas verdejantes, rios caudalosos e praias esculturais! Não vais fazer nada com respeito a isso?" E deus lhe responde: "Olha anjo, eu fiz este lugar bem bonito e tudo mais, sem nenhum desastre natural. Mas tu não sabe o povinho que eu vou colocar ali...

Fato imbecil do dia: Todo o país festejando um fato comprado, ilegítimo e falho.
Frase do dia: "O Brasil não é um país sério"
Charles de Gaulle

2 Comments:

Blogger Felipe Rijo said...

[modo ultra chato]

pra que o 'op.cit.' na referência se tu não citou a obra antes?

e no primeiro parágrafo, tu escreveu 'Ipiragna'.

[/modo ultra chato]


Aqui no Brasil é tudo assim. O povo prefere ver futebol e novela a fazer uma revolução. É muito mais cômodo. Não sabem o que acontece ao redor e ficam felizes com seu churrasco de costela com osso, pagodezinho de fim de semana e séquisso gostoso com a patroa. Comfortably numb.

8:08 PM  
Blogger Luiz Scheidegger said...

O op. cit. eh porque eu copiei isso direto do meu livro de historia, e o Ipiragna serah resolvido

8:39 PM  

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